Prefeitura do Recife e SDS firmam convênio e o município começa a fiscalizar áreas de grande concentração de pessoas, como os parques
Jornal do Commercio – Cidades
Jorge Cavalcanti
Numa sala no primeiro andar do edifício-sede da Prefeitura do Recife, área central da cidade, próxima a uma escada estilo caracol, 41 operadores se revezam em turnos de 24 horas durante os sete dias da semana. Eles são os olhos do poder público municipal numa tarefa que a Constituição Federal delega como de responsabilidade dos Estados: a segurança pública. Na última quarta-feira, entrou em vigor um convênio entre prefeitura e governo de Pernambuco para viabilizar o funcionamento de câmeras em espaços públicos de lazer e convivência. Além dos 40 equipamentos instalados ao longo de 2013, outros 60 entraram em operação recentemente, elevando para 77 os pontos monitorados pela prefeitura, além das 520 câmeras controladas pela Secretaria de Defesa Social (SDS).
A meta da gestão do prefeito Geraldo Julio é colocar em funcionamento mais 40 dispositivos eletrônicos nos próximos meses. E, ao final do mandato, em dezembro de 2016, ter 400 câmeras em plena operação. De acordo com a parceria entre município e Estado, a prefeitura investiu, até o momento, R$ 2,3 milhões. Cabe a ela escolher os pontos que deseja monitorar. E a SDS instala os equipamentos, enquanto os futuros operadores recebem treinamento técnico de uma empresa especializada antes de se sentarem diante dos monitores de última geração. Pelas regras do convênio, o município pode ter acesso às imagens e informações captadas pelas lentes do Estado. E vice-versa.
As áreas vigiadas recebem da prefeitura a denominação de “espaços urbanos seguros”. Entre os pontos escolhidos e já monitorados, estão os parques da cidade: 13 de Maio, Jaqueira, Dona Lindu, Macaxeira, Caiara, Santana e Apipucos. Os três últimos, embora ainda em obras, ganharam o sistema de vigilância. Outras importantes áreas de lazer e convivência da cidade, para onde converge um grande número de pessoas, também estão sob fiscalização, como a Lagoa do Araçá (Imbiribeira), Jardim Botânico (Curado), Pracinha de Boa Viagem e o Sítio Trindade (Casa Amarela).
Para o secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti, a troca de informações entre prefeitura e SDS é uma das vantagens do convênio. “O município está combinando prevenção com integração. Nosso centro de operações está interligado por completo com o da SDS, numa parceria que beneficia a todos”, avalia o secretário.
LONGO ALCANCE
Todas as câmeras da prefeitura podem ser consideradas de alta tecnologia, com qualidade de imagem Full-HD e capacidade de completar o giro de 360 graus e um zoom de até 400 metros. O Jornal do Commercio visitou o centro de operações em duas ocasiões diferentes, ontem e na última quarta-feira. Em ambas as visitas, foi possível constatar o poder de alcance e resolução dos equipamentos. Numa das demonstrações, uma das duas câmeras fixadas na Rua da Aurora, na esquina com a Rua do Riachuelo, o operador conseguiu aproximar a imagem com nitidez até chegar à placa de um dos veículos parados no semáforo mais adiante, no cruzamento com a Rua Princesa Isabel.
Um salto em busca da confiança familiar
Quinze dos 41 operadores de câmera já cumpriram alguma medida socioeducativa e hoje trabalham de carteira assinada, com um salário de R$ 1,1 mil por uma jornada de seis horas
Da Redação
Além de avançar no monitoramento eletrônico da cidade, a Prefeitura do Recife pretende estimular a ressocialização de jovens egressos da Fundação Socioeducativo de Pernambuco (Funase) e, assim, evitar a reincidência no delito por meio da inserção no mercado de trabalho. É essa a essência do programa Trampolim. Quinze dos 41 operadores de câmera já cumpriram alguma medida socioeducativa e hoje trabalham de carteira assinada, com um salário de R$ 1,1 mil por uma jornada de seis horas.
“Historicamente, a sociedade não enxerga neles capacidade para desenvolver funções técnicas. Quando tomamos posse, o prefeito nos passou a missão de capacitar e empregar 160 jovens”, conta o secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife, Eduardo Machado. Por ora, seis empresas – entre elas a Serttel, que gerencia os orientadores de tráfego – estão conveniadas com a prefeitura para absorver a mão de obra formada pelo Trampolim, após um curso de três meses.E uma sétima está perto de fechar a parceria.
Quando terminou de cumprir medida socioeducativa, Esthefane Célia da Silva, 19 anos, pediu a uma das diretoras de um dos centros da Funase para que conseguisse alguma oportunidade para ela “ocupar a cabeça”. Começava ali a melhor mudança na vida da jovem: o resgate da confiança da família, sobretudo da mãe. “É o meu primeiro emprego com carteira assinada. E hoje posso ajudar no sustento de casa. Deixei a vida errada e hoje meus familiares confiam em mim. Isso não tem preço”, conta ela.
Ao lembrar da melhora de vida nos últimos meses, o rosto sério de Esthefane cede vez ao sorriso largo. Ela se formou na primeira turma do Trampolim. Foi a destaque da turma, ao lado de uma amiga.