Sistema bicicletário do Rio entre os sete melhores do mundo
27/12/2013

Criado em 2011, o sistema de compartilhamento de bicicletas na capital fluminense já está entre os sete com melhor aproveitamento no mundo. E vai melhorar. No próximo ano, o número de estações deve passar de 60 para 260

ROBERTA MACHADO

O Rio de Janeiro está entre as sete cidades do mundo com melhor aproveitamento dos seus sistemas de compartilhamento de bicicletas, de acordo com um levantamento realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). A organização lançou um guia internacional de boas práticas para a criação de sistemas de aluguel público de bikes, um modelo que já chegou a 600 cidades dos cinco continentes. Criado em 2011, o Bike Rio é destaque por seu sistema totalmente automatizado, e já tem planos para multiplicar o número de estações no próximo ano.

No guia recém-lançado, o ITDP cita como principais indicadores de eficiência e confiabilidade a penetração do sistema (isto é, o número de viagens diárias feitas com cada bicicleta) e a utilização da infraestrutura, calculada de acordo com o número de viagens em comparação com cada grupo de mil moradores da cidade. O Rio de Janeiro chamou a atenção por acumular 6,9 viagens por dia com cada veículo alugado, totalizando 44,2 retiradas para cada mil cariocas. Os números são comparáveis aos sistemas-modelo de cidades como Barcelona, Nova York, Montreal, Paris e Lyon (Veja quadro).

O primeiro sistema de bike share foi proposto em 1965, em Amsterdã, mas o modelo de empréstimo gratuito de bicicletas só chegou à Europa em 1993. Foi só cinco anos depois que a cidade de Rennes, na França, teve a ideia de permitir que os usuários devolvessem os veículos em qualquer estação, aumentando a mobilidade do transporte sustentável. A maioria dos sistemas de bicicletas compartilhadas, ressalta o ITDP, surgiu na última década. Desde então, cada cidade descobriu a melhor forma de adaptar a ideia aos costumes da população, aos sistemas de transporte já existentes e à geografia da região. Alguns, como o do Rio de Janeiro, dependem de patrocínio, enquanto outros, o de Montreal, por exemplo, são mantidos pelo governo.

Por celular

Hoje em dia, as redes inteligentes reconhecem o usuário e usam sistemas de cobrança eletrônicos, que facilitam a retirada e a devolução das bikes. O Rio de Janeiro está entre as cidades com modelos mais avançados, com um aplicativo para celular que informa o usuário do número de bicicletas em cada estação e que permite que o cadastro e o aluguel sejam feitos diretamente pelo smartphone. “Tínhamos um desafio que era não colocar coisas na estação que consumissem energia, como telas ou teclados. Optamos por fazer uma estação simples, conectada na internet e completamente operada pelo celular”, conta Ângelo Leite, presidente da Cettel, a empresa responsável pelo Bike Rio.

O sistema antifurto também foi melhorado, praticamente extinguindo o número de bicicletas roubadas. A administração hoje sabe em tempo real o usuário que não devolveu a bicicleta, e quais estações precisam ter os veículos retirados ou repostos. Tudo isso graças a chips instalados em cada bicicleta, e à alimentação das estações, que é totalmente feita via energia solar. “Numa estação que recebe muita gente no período da manhã, geralmente deixamos menos bicicletas para poder receber as que estão chegando”, exemplifica Ângelo.

Pontos positivos

O guia do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) identificou cinco características que podem ser consideradas para avaliar os sistemas de bicicletas compartilhadas:

» Distribuição densa de estações:

Uma rede bem distribuída deve ter de 10 a 16 estações por quilômetro quadrado, com uma distância de 300 metros entre elas

» Número de bicicletas por moradores:

De 10 a 30 bicicletas devem estar disponíveis para cada grupo de mil moradores. Áreas muito densas ou com grande fluxo de pessoas devem ter um número maior

» Área de cobertura:

A área mínima a ser coberta pelo sistema deve ser de 10 quilômetros quadrados, com um número significativo de pontos de origem e destinos

» Qualidade de bicicletas:

As bicicletas devem ser duráveis, atraentes e de design diferenciado. O uso de peças e componentes exclusivos e a exibição visível da marca do sistema desencoraja furtos.

» Facilidade de uso:

A tecnologia é decisiva para se criar uma interface simples de usar, assim como um sistema de travamento seguro e automatizado, e o monitoramento em tempo real das bicicletas em uso.

Conheça as cidades com maior aproveitamento diário dos sistemas de bicicletas compartilhadas:

» Barcelona (Espanha)

10,8 viagens por bicicleta e 67,9 viagens a cada 1 mil moradores

» Lyon (França)

8,3 viagens por bicicleta e 55,1 viagens a cada 1 mil moradores

» Cidade do México (México)

5,5 viagens por bicicleta e 158,2 viagens a cada 1 mil moradores

» Montreal (Canadá)

6,8 viagens por bicicleta e 113,8 viagens a cada 1 mil moradores

» Nova York (EUA)

8,3 viagens por bicicleta e 42,7 viagens a cada 1 mil moradores

» Paris (França)

6,7 viagens por bicicleta e 38,4 viagens a cada 1 mil moradores

» Rio de Janeiro

6,9 viagens por bicicleta e 44,2 viagens a cada 1 mil moradores

Correio Braziliense, Ciência e Saúde, 24/12/2013